23 janeiro 2008

O Amor Vulgar

"Pinta-se o Amor sempre menino, porque ainda que passe dos sete anos, como o de Jacob, nunca chega à idade de uso de razão. Usar de razão, e amar, são duas coisas que não se juntam. A alma de um menino, que vem a ser? Uma vontade com afectos, e um entendimento sem uso. Tal é o amor vulgar. Tudo conquista o amor, quando conquista uma alma; porém o primeiro rendido é o entendimento. Ninguém teve a vontade febricitante, que não tivesse o entendimento frenético. O amor deixará de variar, se for firme, mas não deixará de tresvariar, se é amor. Nunca o fogo abrasou a vontade, que o fumo não cegasse o entendimento. Nunca houve enfermidade no coração, que não houvesse fraqueza no juízo. Por isso os mesmos Pintores do Amor lhe vendaram os olhos. E como o primeiro efeito, ou a última disposição do amor, é cegar o entendimento, daqui vem, que isto que vulgarmente se chama amor, tem mais partes de ignorância: e quantas partes tem de ignorância, tantas lhe faltam de amor. Quem ama, porque conhece, é amante; quem ama, porque ignora, é néscio. Assim como a ignorância na ofensa diminui o delito, assim no amor diminui o merecimento. Quem, ignorando, ofendeu, em rigor não é delinquente; quem, ignorando, amou, em rigor não é amante."

Padre António Vieira, in "Sermões"

21 janeiro 2008

Aprende

Como tu dizes:
"Rapariga gira com bom coração dá mau resultado".

Já a minha avó dizia:
Ai capitão
Soldado,
Ladrão.
Menina bonita
Não tem coração!


Tanta vez ouviste a lenga-lenga, miúda, e não aprendeste!

A sinceridade do Ódio

Hoje percebi...
Hoje algumas coisas fizeram sentido...
Hoje, quando repenso, e do amor te vejo passar ao ódio...

Hoje percebo em como o ódio pode ser o primado da sinceridade.

O Amor não... Esse prefere floreados e inverdades.

_Hoje estás particularmente feia!
_Hoje vejo-te como um verdadeiro imbecil!


Sim, só o ódio se permite a estes luxos. Dizer verdades cruéis em tom trivial.
Já o Amor corrói a alma com as suas destrezas linguísticas.

Procura-se amigo!

"Amigo não é aquele que nos levanta quando caímos, mas sim aquele que dá uma chapada ao filho da puta que nos empurrou".

Hoje exerço o meu "direito ao foda-se"!

Suicidal Dream



A propósito de suicídio:

- Não percebo, com tantos anos de vida pela frente, acabar assim...
_ Tu gostas de problemas... Há quem não goste...


Para ouvir: Silverchair,"Suicidal Dream". Música controversa.

E ficar por cá com os nossos problemas? Dissecar, saborear, viver nessa dor tão terrena e ir onde a vida nos levar...

Assinado: uma problemática de natureza.

20 janeiro 2008

Hoje, de tanto pensar, de tanto ter lido e ouvido... Não tenho nada a dizer.
Há dias assim, acorda-se com todos os pensamentos na ponta dos dedos e adormece-se sem palavras para os expressar.
Entre o acordar e o adormecer, ficou um dia inteiro sem tempo para escrever.
Passei um dia inteiro sem dissecar o que cá vai dentro.
Talvez amanhã me olhe no espelho da minha escrita.
Ou depois de amanhã.
Ou noutro dia qualquer.

Hoje apenas posso dizer:
Há quem tenha ouvido para a música,
Eu tenho olho para causas perdidas.

14 janeiro 2008

Não te gosto em Silêncio


Estou de volta...
Mas quando penso encontrar as palavras para escrever algo genuino, sentido... Quando parece estar a encontrar as palavras certas para exprimir o que me emudece a alma... Encontro as palavras que, afinal, não saberia dizer...
Aqui fica:

"Não te gosto em silêncio porque te sinto distante...
Entre tua boca e a palavra mora talvez minha angústia
como entre o dia e a noite
vacila a longa dúvida do crepúsculo.

Não te gosto em silêncio, quando há em teus olhos, pousados,
dois estranhos pássaros noturnos,
e teus lábios emudecem como a fonte nos ásperos
e intermináveis invernos.
Não te gosto em silêncio quando te envolves com as coisas
que te cercam, como se fosses uma delas,
quando estás como as águas paradas, cuja beleza
é apenas o reflexo das estrelas.
Por isto te provoco e te atiro perguntas
como pedras quebrando a impassibilidade do lago,
como pancadas no gongo que estremece e vibra
e te traz à tona para mim.

Não te gosto em silêncio, porque parece que atrás de tua voz
ainda se esconde alguém que tu própria não conheces,
a alguém embuçado a ameaçar nosso sonho
e que só tuas palavras poderão expulsar.
Não te gosto em silêncio, porque preciso ainda de tua palavra
para te descobrir,
lanterna adiante de meu passo, alvorada desenterrando
na noite emaranhada meu indeciso caminho.
Porque preciso ainda que tua palavra chegue como um vento forte
arrastando nuvens, limpando céus e horizontes,
levando folhas doentes, te descobrindo ao sol...
Um dia te gostarei em silêncio. E então me recolherei em teu silêncio,
e procurarei a sombra, como o pássaro na hora da tarde,
e porque o sol estará em nós e nada turvará meu pensamento,
entre tua boca e a palavra haverá apenas o meu beijo."